«Se fosse preciso provar que os seres humanos são essencialmente criaturas sociais , a existência da amizade fornecer-nos-ia tudo o que desejássemos. Como afirmou Aristóteles: “Ninguém escolheria viver sem amigos, mesmo que tivesse todos os outros bens”. (…)
Os amigos prestam auxílio, mas os benefícios da amizade vão muito além da assistência material. Sem amigos, estaríamos psicologicamente perdidos. Os nossos triunfos parecem vazios a menos que tenhamos amigos para os partilhar, e os nossos fracassos tornam-se suportáveis graças à sua compreensão. Até mesmo o nosso amor-próprio depende em grande medida das garantias dos amigos: ao retribuírem o nosso afeto, confirmam o nosso valor como seres humanos.
Se necessitamos de amigos, necessitamos igualmente das qualidades de caráter que nos capacitam para ser amigos. No topo da lista está a lealdade. Os amigos são pessoas com quem se pode contar. Apoiam-se mutuamente mesmo quando as coisas ficam feias, ou mesmo quando, falando objetivamente, o amigo merecia ser abandonado. Fazem concessões entre si; perdoam ofensas e refreiam juízos mais duros. Há limites, naturalmente. Por vezes, um amigo será a única pessoa capaz de nos dizer as verdades mais duras sobre nós mesmos. Mas as críticas são aceitáveis da parte de amigos porque sabemos que as sua repreensão não significa rejeição (…).
Todos precisam de amigos, e para termos amigos temos de saber ser amigos; por isso, todos precisamos de lealdade.»
James Rachels, Elementos de Filosofia Moral, Gradiva, Lisboa, 2004, pp 255-256, 260.
(Fotografia de Pierre Verger)
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