«O ensino – e, em especial, o “ensino liberal” – é aquilo que torna possível a sociedade civil. (…)
Com “ensino liberal” refiro-me ao ensino que inclui literatura, história e apreciação das artes, atribuindo-lhe um peso igual ao que é dado às matérias científicas e práticas. O ensino nestas áreas oferece-nos a possibilidade de viver mais reflexiva e conhecedoramente, especialmente no que diz respeito à gama da experiência e do sentimentos humanos, tal como existe aqui e agora, assim como alhures e no passado. Isso, por sua vez, faz-nos entender melhor os interesses, necessidades e desejos dos outros, permitindo que os tratemos com respeito e compreensão, por muito diferentes das nossas que sejam as escolhas que fazem ou as experiências que moldaram as suas vidas. Quando o respeito e a compreensão são retribuídos, tornando-se mútuos, as brechas que poderiam suscitar fricção entre as pessoas, e até guerra, são unidas ou, pelo menos, toleradas. E basta o último caso.
A visão é utópica: não há dúvida que havia oficiais das SS que liam Goethe e ouviam Beethoven, e a seguir iam trabalhar para as câmaras de gás – portanto, o ensino liberal não produz automaticamente pessoas melhores. Mas fá-lo muito mais frequentemente do que a estupidez e o egoísmo que acompanham a falta de conhecimento e o discernimento medíocre.»
A. C. Grayling, O significado das coisas, Lisboa, 2002, Edições Gradiva, pág. 187.
Lembrei-me destas palavras de Grayling ao ler que “the highest proportion of Nazi party members came from the educated classes” (aqui, no 15º parágrafo).
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