sexta-feira, 19 de novembro de 2010

A importância da discussão

Diálogo

Ontem foi Dia Mundial da Filosofia. Uma das formas de o comemorar teria sido partilhar ideias e  discutir opiniões: o que muitas  pessoas em Portugal não fazem, nem valorizam.

Constato com  frequência - por exemplo na política e na escola - que a salutar divergência de pontos de vista é interpretada como ataque pessoal, arrogância, agressividade, atentado à estabilidade política e ao poder instituído, desrespeito pela autoridade (seja ela de que natureza for) exibicionismo e por aí adiante. Contudo,  projectar preconceitos e temores no interlocutor para o desqualificar, em vez de argumentar, chama-se desonestidade intelectual e não discussão.

O que importa numa discussão é analisar se temos boas razões  para aceitar um determinado ponto de vista ou se, pelo contrário, temos boas razões para o refutar. E isto só é possível se ouvirmos e analisarmos racionalmente os argumentos dos outros.

8 comentários:

Carlos Café disse...

Tens toda a razão, Sara. As escolas, que deveriam ser locais de formação relevante das pessoas, são um dos locais onde tal se verifica, nomeadamente entre os professores. É verdade que a instabilidade contribui para que as pessoas se inibam de discutir racional e abertamente, mas isso não explica tudo. Penso que existe uma falta de espírito crítico alarmante na classe docente. Há preconceitos a mais e argumentos a menos e um certo tipo de pensamento mágico no lugar da avaliação racional da realidade. Temos de aproveitar estas efemérides para "voltarmos à carga". Abraço

MARCIO FIALHO disse...

Concordo 100%.

No Brasil é igual... e me pergunto se não é assim no mundo todo.

Aqui, creio que ninguém pense em assuntos como Política, mas todos têm uma opinião. Como pode?
A pior parte, é a defesa voraz que fazem dessa opinião, na qual quem tem opinião contrária, é porque é imbecil.

William Fontana disse...

"temores no interlocutor para o desqualificar, em vez de argumentar, chama-se desonestidade intelectual e não discussão."

Somente o que sofro todos os dias por pseudos, não obstante, uma falacia categórica Argumentum ad hominem, quando na prática critica-se sem expor o argumento em si para tal se não sobre o argumentador (ex: "escrevo 17engraçado").

Bípede Falante disse...

Bem pensado. Concordo :)

Sara Raposo disse...

Carlos, obrigado pelo teu comentário. Concordo em parte com o que dizes.

É verdade que as condições de trabalho, sobretudo de tempo, dos professores do secundário são péssimas (talvez as pessoas que estejam fora deste nível de ensino ou não leccionem tantas turmas como eu – e há casos piores – tenham dificuldade em compreender o que estou a dizer). Além das aulas propriamente ditas, os professores vivem sufocados com inúmeras tarefas burocráticas, veja-se o caso do plano curricular de turma, do projecto de educação sexual, as burocracias da direcção de turma, etc. Para não falar de outro tipo de actividades não lectivas (inúteis), inscritas nos horários, como aulas de substituição. Todas estas ocupações roubam tempo e energia física e mental para aquilo que é verdadeiramente importante: a preparação e a leccionação das aulas, a actualização científico-pedagógica. Há ainda o ambiente de desalento generalizado que se vive nas escolas e o absurdo das regras da avaliação impostas aos professores.

Contudo, apesar de ser assim, estes factores não são suficientes para explicar a falta de espírito crítico de que tu falaste. Mas, parece-me que a comemoração de efemérides como esta não alteram significativamente este estado de coisas, nem junto dos professores, nem dos alunos em geral. Sobre aquilo que penso serem as razões explicativas já escrevi neste blogue em:

http://duvida-metodica.blogspot.com/2009/12/razoes-para-nao-ler.html

A não ser a existência de exigência e constrangimentos exteriores, como exames, não penso que as coisas possam vir a melhorar.

Cumprimentos.

Sara Raposo disse...

Márcio:
Obrigada pelo seu comentário. Não penso que seja assim no mundo todo, há países onde, nos meios académicos e em geral, se valoriza mais a discussão e se promove a atitude crítica, na Inglaterra e os Estados Unidos, por exemplo. E isso reflecte-se no modo como se faz filosofia nesses países. Não significa que também aí muitas pessoas não sejam também apáticas e indiferentes ao debate público. Mas pelo menos reconhece-se(em termos teóricos e práticos) que a divergência de pontos de vista conduz a mais e/ou melhor conhecimento.

Defender (como refere) uma ideia atacando pessoalmente o adversário, com insultos, é demitir-se de discutir o assunto em causa.

Cumprimentos.

Sara Raposo disse...

Gerson:

Obrigado pelo seu comentário.

Cumprimentos.

Sara Raposo disse...

Bípede falante:

Obrigado pelo seu comentário.

Cumprimentos.