«Podemos ler Hume de duas maneiras. Na primeira, vendo-o como um cético que defende, a partir de premissas empiristas, a ideia de que as convicções comuns quanto à possibilidade do conhecimento são indefensáveis. Na segunda, como o proponente da “filosofia natural” do homem, partindo de observações empíricas sobre a mente humana para concluir que esta foi inadequadamente compreendida pelos metafísicos. As duas leituras não são incompatíveis (…).
O “naturalismo” de Hume é newtoniano: Hume procura construir uma ciência da mente sem se basear em pressupostos infundados e apoiando-se apenas na observação. Percebemos implicitamente que rejeita as teorias dos metafísicos por não encontrar fundamento para elas. Ao mesmo tempo não gostava de passar por cético radical, pois o ceticismo radical é contranatura. Hume é um cético apenas naquela vertente moderada defendida no passado na Academia de Platão – um cético que procura refrear as pretensões da razão humana e recordar-nos da nossa natureza de seres passionais e governados pelo costume. Desse modo, quando chega a uma conclusão cética, Hume tende a dar um passo atrás, informando o leitor de que está apenas a discutir as operações da mente humana e não a criticar as crenças que espontaneamente surgem em nós. Contudo, o seu estilo irónico, e o quase impercetível piscar de olhos quando propõe as suas “soluções céticas” tornam difícil ter certezas quanto às suas intenções.»
Roger Scruton, Breve História da Filosofia Moderna, Guerra & Paz, Lisboa, 2010, pág. 160.
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