A falácia das más companhias (“Guilt by association fallacy”.ou “Bad company fallacy”) é uma falácia informal que consiste em “atacar a posição de outra pessoa apenas porque foi defendida por alguém obviamente malévolo ou estúpido. (…) A sugestão é que se alguém obviamente malévolo ou estúpido defendeu aquela perspetiva, então só quem é também malévolo ou estúpido a defenderá.
Esta forma de argumentar não é fidedigna, o que rapidamente se torna claro quando consideramos exemplos.
Por exemplo, (…) se o leitor defendesse a legalização de algumas formas de eutanásia e alguém procurasse refutar o seu argumento chamando a atenção para o facto de Hitler ser a favor da eutanásia e ter criado um programa de eutanásia do qual resultou a morte de 70000 pacientes em hospitais, essa pessoa incorreria no uso da falácia das más companhias. (…) Neste caso, essa falácia sugere que o que Hitler aprovava era, por essa mesma razão, moralmente errado ou algo que se baseava numa crença falsa. Isto não equivale a dizer que não pode haver razões independentes em virtude das quais legalizar a eutanásia poderia ser um erro; sugere apenas que o facto de Hitler pôr em prática a política da eutanásia não é, em si, uma boa razão para evitar fazê-lo. O que precisamos é de um género de análise das semelhanças relevantes entre as duas situações. (…)
Pode ser extremamente desconfortável dar connosco a concordar com pessoas que desprezamos completamente. Todavia, isso não é suficiente para provar que o facto de Hitler acreditar em algo mostra que a crença é falsa. Afinal, Hitler acreditava que 2 + 3 = 5 e que Berlim fica na Alemanha. O que esta forma de argumento ignora é que as pessoas más e estúpidas não só têm inúmeras crenças falsas, mas também muitas crenças verdadeiras. (…)
Embora Hitler tenha defendido muitas práticas perversas e tenha sido responsável por alguns dos piores crimes conhecidos contra a Humanidade, não se segue que tudo aquilo que defendeu ou em que acreditava era moralmente errado ou falso.”
Nigel Warburton, Pensar de A a Z, Editorial Bizâncio, Lisboa, 2012, pp. 128-130.
Esta falácia é muitas vezes designada por “argumentum ad Hitlerum” (ou “Reductio ad Hitlerum”), mas “falácia das más companhias” é um nome preferível, na medida em que é mais abrangente. Com efeito, além de Hitler há muitas outras más companhias a que se pode apelar para desacreditar um argumento ou ideia.
Em Portugal, por exemplo, esse apelo ocorre por vezes com Salazar.
Sem comentários:
Enviar um comentário