«Ao logo de quase toda a sua história, “filosofia” tinha como significado geral “investigação racional”, apesar de, a partir do início dos tempos modernos, no Renascimento, e até ao século XIX, ter passado mais em particular a significar aquilo a que agora chamamos “ciência”, apesar de um “filósofo” ser ainda que alguém que investigava tudo e mais alguma coisa. Daí que o Rei Lear diga a Edgar: “Deixa-me primeiro falar com este filósofo: qual é a causa da trovoada?” Na lápide de William Hazlitt, entalhada em 1820, o famoso ensaísta é descrito como “o primeiro (sem rival) Metafísico do seu tempo”, porque nessa altura o que agora chamamos “filosofia” chamava-se “metafísica”, para distingui-la do que agora chamamos “ciência”. Esta distinção era muitas vezes assinalada com a designação “filosofia moral”, para falar do que agora chamamos “filosofia”, e “filosofia natural” para falar do que agora chamamos “ciência”.
A palavra “cientista” foi introduzida muito recentemente, em 1833, dando à palavra relacionada “ciência” o sentido de referência que agora tem. Depois dessa data, as palavras “filosofia” e “ciência” assumiram os seus significados atuais, à medida que as ciências se afastavam mais e mais da investigação geral, ao se especializarem e se tornarem cada vez mais técnicas.»
A. C. Grayling, Uma História da Filosofia, Edições 70, Lisboa, 2020, pág. 17.
(Tradução de Desidério Murcho.)
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