sexta-feira, 8 de abril de 2016

O que andamos a fazer no mundo

lee-jeffries-mendigos13

TOMA E LÊ

Podes estudar história,
Enigmas, boatos e mexericos,
Páginas de electrónica maluca,
E de repente deparas-te
Com um mendigo à chuva e deixas
De saber o que andas a fazer no mundo.

Um fantasma ganha temperatura ao teu lado
E dá-te um toque no ombro.
Chuva de ouro, Dánae na espuma,
A cintilação da vida.

Estão a abraçar-te; o sol irrompe.
Alguém decifrou uma nova escrita
Cuneiforme, os miúdos andam de Vespa
Numa perseguição louca às vestais.

Tudo custa e tudo é insignificante.
Tolle, lege, Santo Agostinho,
Toma este poema e lê.

Não nos incluas
Nas tuas insuportáveis preces:
Não foi por nós
Que o teu Deus sofreu.

Stefan Hertmans

(versão de Vasco Gato)

Fotografia de Lee Jeffries.

1 comentário:

Ofelia Cabaço disse...

Muito bom; andamos no mundo e não sabemos o que andamos a fazer; poesia fazemos e não basta!
Gostei muitíssimo do poema.