O pior do ministro Nuno Crato
talvez não sejam as imensas coisas que fez mal (nomeadamente, a desvalorização
arbitrária de umas disciplinas em detrimento de outras, os empurrões para o desemprego
e a diminuição das condições de trabalho de professores que antes já tinham más
condições de trabalho). O pior talvez seja o facto de a natural indignação com
essas maldades levar muitas pessoas a rejeitar algumas das poucas coisas boas
que ele fez (por exemplo, as metas curriculares e a introdução de mais exames)
e a duvidar da bondade de algumas das suas boas ideias infelizmente ainda não concretizadas (por exemplo, a
condenação do “eduquês” e da sua nefasta pedagogia).
Mas não nos enganemos. Nuno Crato
é um péssimo ministro e quando se for embora não deixará saudades. Contudo, os
exames (bem feitos, claro), embora não sejam uma solução mágica e única, são
muito importantes e o “eduquês” está realmente errado.
Oxalá o próximo ministro da
educação consiga manter o pouco que há de bom em Nuno Crato e corrija os seus
inúmeros erros. Um deles, que roça o patético, é a incapacidade de reconhecer
falhas – como se tem visto com a negação de que houve erros na colocação de
professores quando é óbvio que houve milhares de erros e que esses erros
influenciam globalmente os concursos.
Oxalá, mas… duvido. Seja qual for
o partido a formar o próximo governo e seja qual for o ministro da educação,
duvido que não seja mau. Afinal de contas, se Nuno Crato, com todas as boas
ideias pedagógicas que tinha e que defendeu publicamente com tanta clareza, fez
o péssimo trabalho que está à vista, não vale a pena esperar grande coisa de
outro ministro qualquer.
2 comentários:
Carlos Pires:
A imagem que pôs no post pode sugerir (simbolicamente) que o ministro deva ir para Alter do Chão, talvez criar cavalos na Coudelaria de Alter, que é uma matéria sobre a qual, certamente, perceberá tanto como percebia de educação quando se propôs «implodir o ME»: o único objectivo a que se propôs e que vai, realmente, cumprir, pois já o escaqueirou todo.
Moral da história: não basta podermos ter razão num ou outro aspecto (dos múltiplos) de que é feita a Educação para sermos capazes e a deixar melhor do que quando tomámos conta dela.
Mas quem conheça (pelo algum saber teórico e pelo saber prático) a Educação entre nós (e, acima de tudo, a sua história pelo menos nos últimos 250 anos, grosso modo, isto é, desde as reformas do Marquês de Pombal), ao ter lido o best seller cratino «O Eduquês…» ficou logo esclarecido e a perceber o que a casa gastava: há lá contradições conceptuais essenciais de bradar aos céus.
Pior, quem assistiu a um programa numa TV por cabo (não me lembro o nome nem o canal, terá sido há uns 4 ou 5 anos), da autoria de Francisco José Viegas, em que este ia à casa (mais concretamente à biblioteca, do entrevistado, onde decorria a conversa), e ouviu a confissão naïf de Crato de que se tinha começado a interessar pela educação porque tinha encontrado, havia pouco tempo, um livro americano sobre o assunto que lhe despertara a curiosidade, ficou logo esclarecido.
Daí a ter sido transformado em «especialista instantâneo» em educação pela mão do papa anti-eduquês com o livro «O Eduquês…» e também de alguns programas de televisão onde era convidado frequente, demorou o tempo que a espuma da cerveja leva a solta-se da garrafa quando tiramos a cápsula.
(Nota: o que digo não deve ser entendido como defesa do eduquês, modismo como tantos outros, factor nefasto como muitos outros que afectam a Educação. O problema é o centramento ideológico-programático de que foi alvo por parte de algumas pessoas que levou à obscurecimento dos restantes factores que condicionam negativamente a Educação).
Contudo, esta é uma matéria demasiado complexa para ser entregue a pessoas mal preparadas, que não a conheçam suficientemente, que se movem apenas por fanatismo ideológico, como é o caso de Crato.
E ao contrário de si, não estou tão pessimista quanto ao próximo ministro da Educação. Se os «deuses» quiserem e for quem eu penso e desejo, pessoa que tem grandes possibilidades de vir a ser o próximo ME, será, na minha opinião, a pessoa mais bem preparada que já tivemos desde o 25 de Abril. Uma pessoa que conhece a fundo a matéria a matéria, tanto a nível nacional como internacional, sensata, realista, com uma capacidade de trabalho e uma determinação sem fim.
E com provas dadas de gestor (num sentido não economista) num dado sector da educação.
E depois do megatsunami cratista a tarefa também fica um pouco mais facilitada, pois haverá muito boa gente a lembrar-se, por amarga experiência, o que representou a «implosão», não do ministério da Educação mas da Educação em Portugal.
Em matéria e Educação os resultados das políticas lavam anos a revelar-se na sua plenitude, daí a necessidade de reformas sensatas e informadas, não de revoluções, muito menos e tsunamis provocados artificialmente.
Permita-me que lhe deixe uma sugestão de leitura, aparentemente despropositada, mas se a ler verá que não é, sendo, sim, uma boa metáfora para o que lhe acabei de dizer. E ilustra bem as consequências do fanatismo ideológico e a vitória do bom senso, da acção informada: O artigo chama-se: «Draghi, Junker, Merkel, keynesianismo e bom senso». Deixo o link: http://destrezadasduvidas.blogspot.pt/
Peço desculpa aos leitores pelas inúmeras gralhas no comentário. A sua extensão e a pressa deram nisto:
linha 2 - «como percebia de Educação»
linha 3 - «o único objectivo que vai, realmente»
linha 7 - «por algum saber teórico»
linha 13 - «a interessar pela Educação»
linha 16 - «em Educação pela mão»
linha 18 - «leva a soltar-se da garrafa»
linha 21 - «que levou ao obscurecimento»
linha 23 - «que se movam apenas»
linha 24/5 - «a fundo a matéria, tanto a nível»
linha 31 - «das políticas levam anos a»
linha 32 - «muito menos de tsunamis»
Espero que tenha caçado todas as gralhas e que não tenha introduzido mais nenhuma.
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