terça-feira, 17 de dezembro de 2013

Farei greve e não vigiarei a PACC

sala-de-aula-dcnat2

Amanhã é o dia em que os professores de algumas escolas foram convocados para vigiar a chamada Prova de Avaliação de Capacidades e Conhecimentos. Farei greve e não farei essa vigilância.

Depois de termos passado semanas afogados em trabalho, dando aulas e corrigindo testes, e quando ainda faltam realizar as reuniões de avaliação, a ideia do ministério impor agora este serviço aos professores é totalmente disparatada. Contudo, esse não é o principal problema.

Podem-se discutir razões para realizar uma prova deste género – não vou fazê-lo aqui –, mas o modo como o processo foi conduzido foi degradante para os professores, assim como o timing escolhido. A incapacidade de dialogar e os avanços e recuos do ministro Nuno Crato exemplificam bem o que um governo não deve fazer.

Em boa verdade os sindicatos não se portaram muito melhor e, como é costume, passaram ao lado do essencial. Mais uma vez deixaram a opinião pública a pensar que muitos professores não querem que exista nenhuma avaliação e não apenas avaliações injustas, como é o caso desta prova nos moldes em que vai decorrer.

Se tivermos em conta a degradação - crescente desde os governos de Sócrates até agora - das condições de trabalho dos professores (a multiplicação de níveis e de turmas, o aumento das tarefas burocráticas, o congelamento na carreira, a submissão a um sistema de avaliação cuja aplicação não teve qualquer consequência e cujo rigor e objetividade é muito duvidoso, a precarização e o perigo dos horários zero), agravadas com a criação dos agrupamentos de escolas (que tornaram as escolas muito difíceis de gerir e afastaram os diretores da vida diária de cada escola, com consequências negativas nomeadamente na indisciplina), o sentimento reinante é de descrédito e desalento total. Mesmo para aqueles que sacrificam a sua vida pessoal para fazer aquilo que o ministério não dá condições para fazer: ensinar os alunos da melhor maneira possível.

A humilhação e o medo também foram estratégias da ministra Maria de Lurdes Rodrigues. Julgava o ministro Nuno Crato mais bem preparado e digno do que ela. Enganei-me. A estratégia política de utilizar os ataques à imagem pública dos professores - colando a todos o rótulo de incompetentes - para distrair opinião pública da incompetência, da irresponsabilidade e da injustiça das políticas deste governo também foi utilizada pelo governo anterior. As incoerências, que outrora o ministro Nuno Crato lucidamente denunciava, estão de volta, tal como o autismo e a incapacidade de explicar publicamente as decisões erráticas que são tomadas e cujos critérios são duvidosos (ver um exemplo aqui).

Só que não é possível melhorar o ensino contra os professores. Humilhá-los e tirar-lhes as condições de trabalho piora os problemas. A prova de amanhã é apenas uma tentativa de desviar a atenção do essencial e não vai contribuir para resolver nenhum desses problemas.

2 comentários:

Sérgio Lagoa disse...

Absolutamente de acordo, palavra por palavra. Obrigado!

andré disse...

Quase totalmente de acordo ;)