"Uma vida não examinada pode não valer a pena ser vivida, mas examinar a minha é esgotante."
Este e outros cartoons da autora podem encontrar-se aqui.
Sócrates, um dos mais conhecidos filósofos gregos, foi condenado à morte em 399 (a.C.). Não escreveu nenhum livro. O que sabemos sobre ele deve-se, entre outros, ao testemunho do seu discípulo Platão. Nos diálogos que este escreveu Sócrates é uma figura central.
Na Apologia de Sócrates, Platão apresenta o discurso proferido em tribunal pelo seu mestre. Acusado, entre outras coisas, de “fazer do argumento fraco o argumento forte, ensinando os outros a fazerem como ele”, e corrompendo assim a juventude, Sócrates defendeu-se dizendo que nada mais fazia do que examinar-se a si próprio e aos outros com o objectivo de descobrir alguém mais sábio do que ele (que reconhecia nada saber sobre o bom, a virtude e o belo, por exemplo). Eis as suas palavras:
“Nada mais faço do que andar pelas ruas a persuadir-vos, jovens ou velhos, a cuidardes mais da alma que do corpo e das riquezas, de modo a que vos torneis homens excelentes.
Se, ao dizer isto, estou a corromper os jovens, mal vão as coisas. Mas, se alguém afirmar que eu digo mais do que isto, afirma falsidades (…).
Pois, se me matardes, sendo eu como sou, fareis mais mal a vós próprios do que a mim. Poderiam talvez matar-me, banir-me ou privar-me de direitos, pensando como outros que são estas coisas grandes males. Mas eu não penso assim. O que penso é que quem o fizer está a fazer a si próprio muito pior, por tentar matar injustamente um homem. Por isso, preciso muito mais de vos defender a vós do que de me defender a mim (…). Isto porque, se me matardes, não encontrareis com facilidade outro como eu que – para falar gracejando – se agarre à cidade como um moscardo a um cavalo forte e de bom sangue que, por causa do tamanho, precisa de ser despertado por um aguilhão (…).
E se eu disser que o maior bem que pode haver para um homem é, todos os dias, discorrer sobre a excelência e sobre outros temas acerca dos quais me ouvíeis dialogar, investigando-me a mim e aos outros. E se eu vos disser que uma vida sem pensar não é digna de ser vivida por um homem, ainda menos vos terei persuadido. É como digo, homens, não sois fáceis de convencer!”
Platão, A apologia de Sócrates, tradução de José Trindade Santos, 2ª Edição, Imprensa Nacional Casa da Moeda, Lisboa, 1990, pág. 85-87 e 94.
Terá Sócrates razão ao defender que uma vida sem pensar não é digna de ser vivida? Porquê?
2 comentários:
Por ironia do destino, ou não, quando começei a ler este texto, ao mesmo tempo ouvia "Better man" dos Pearl Jam. :)
Tem a ver? ("cant find a better man" -embora em contextos diferente, também no texto: Sócrates- "não encontrareis com facilidade outro como eu"-
ok..divagações ou coincidências reais à parte...
Penso que a ideia principal do texto, seria uma chamada de atenção à reflexão; reflectir à forma de viver.
O que notar e que importância dar á forma como se vive a vida.
Ter o minimo de ideia e pensamento sobre o lugar de cada um na sociedade e o nosso impacto no próximo.
Essencialmente esta ideia talvez?
E..quanto á dignidade em viver..
Sócrates teria essa ideia, porque uma vida não pode ser vivida em solidão. Vivemos e lidamos sempre com mais alguém..aprendemos com alguém e ensinamos a outro alguém. O acto em si de pensar, está conotado à reflecção e à partilha no mundo, na sociedade, no grupo onde estamos inseridos! O que ensinarmos, reverterá também na forma como outra pessoa irá viver ou interpretar a sua vida, as varias formas de viver a sua própria vida, ou contactando com outras pessoas.
Penso que..é so, por agora! :)
Até Depois
André:
Julgo que a coincidência que refere não tem muito a ver com o sentido das palavras de Sócrates na Apologia: a menos que explicite o o sentido de "encontrar alguém melhor".
Agradeço o seu comentário.
Cumprimentos.
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