domingo, 24 de maio de 2009

Verificabilidade e falsificabilidade – alguns exemplos

Consideremos as quatro afirmações seguintes de acordo com o critério de falsificabilidade:

Scarlett Johansson A) A aura de uma pessoa não é afectada pela gravidade.

B) O corpo de Scarlett Johansson é afectado pela gravidade.

C) Todos os corpos terrestres são afectados pela gravidade.

D) Todos os corpos do Universo são afectados pela gravidade.

A afirmação A) não é falsificável, pois não se consegue conceber nenhum teste para avaliá-la nem as condições em que poderia ser falsa. Não se consegue imaginar o que seria encontrar um contra-exemplo que a refutasse.

As outras afirmações são falsificáveis, pois podem ser alvo de testes empíricos e podemos indicar em que condições poderiam ser falsas. Por exemplo: se se descobrisse noutro planeta uma rocha que não fosse afectável pela gravidade a afirmação D) seria falsa.

Embora sejam todas falsificáveis, essas três afirmações têm graus diferentes de falsificabilidade. A B) é menos falsificável que a C) e esta é menos falsificável que a D). Esta é de todas a mais falsificável, pois é aquela que se refere a mais objectos e que, portanto, corre mais riscos de falhar. Por isso mesmo, é de todas a mais informativa, a que tem mais conteúdo empírico.

Se analisarmos as quatro afirmações de acordo com o critério de verificabilidade, os resultados obtidos não serão idênticos.

A afirmação A) não é verificável, pois não pode ser sujeita a testes empíricos. A afirmação B) é verificável, pois é possível estabelecer através de testes empíricos a sua verdade ou falsidade – no caso, a sua verdade.

Todavia, as afirmações C) e D) não são realmente verificáveis, pois exprimem proposições universais e não é possível fazer testes empíricos capazes de verificar o que se passa com cada um dos corpos terrestres ou do Universo. Esses testes podem apenas ser feitos em relação a alguns casos. Todavia, a generalização dos resultados obtidos não permite verificar (provar, determinar de um modo conclusivo) a verdade dessas afirmações.

(Como é sabido, uma generalização não consegue garantir a verdade da sua conclusão, mas apenas mostrar a sua – maior ou menor – probabilidade.)

Por isso, se quisermos perceber porque é as afirmações C) e D) têm carácter científico precisamos de recorrer ao critério de falsificabilidade.

2 comentários:

António Daniel disse...

Excelente post! Muito útil para os meus alunos. Aliás, Popper faz uma relação entre a capacidade de uma conjectura ser falsificada e o probabilismo. Quanto mais uma teoria diz acerca da realidade, mais ela é falsificável. A possibilidade de encontrar um número num dado é de 1 para 6. A possibilidade de encontrar um número em dois dados é bem menor. Portanto, quanto mais diz sobre a realidade, menos capacidade uma teoria tem de acertar e mais probabilidade de falhar. Daí que verificação e falsificação sejam inversamente proporcionais.

Carlos Pires disse...

Obrigado António.
O exemplo do dado é bom, mas suponho que afirmar que "verificação e falsificação sejam inversamente proporcionais" seja uma maneira de falar.