segunda-feira, 7 de julho de 2025

De nada adianta ter certezas

«Somos falíveis. Por isso, por mais cuidado que tenhamos, podemos estar enganados. E de nada adianta ter certezas. A certeza é apenas a convicção profunda de que não estamos enganados; mas se podemos estar enganados quando cremos que sabemos, também podemos estar enganados quando damos à nossa convicção a força da certeza. A certeza não é um botão mágico que elimina a possibilidade de erro e ilusão. 
Somos falíveis. Mas não estamos sozinhos. Podemos recorrer a várias outras pessoas. Elas são todas igualmente falíveis, mas se todos discutirmos abertamente e procurarmos a verdade, podemos corrigir melhor os nossos erros.»

Desidério Murcho, Filosofia em Directo, Fundação Francisco Manuel dos Santos, Lisboa, 2011, pág. 82. 




quinta-feira, 20 de fevereiro de 2025

O que devemos fazer

«Queremos andar pelos nossos próprios pés e olhar para o mundo de forma justa e objetiva – os seus factos bons, os seus factos maus, as suas belezas e as suas fealdades; ver o mundo tal como é, e não temê-lo. Conquistar o mundo pela inteligência e não ficarmos escravizados pelo medo. (…) Temos de nos erguer e encarar francamente o mundo. Temos de tornar o mundo o melhor possível e, mesmo que não seja tão bom quanto desejamos, será ainda assim melhor do que o construído no passado. Um mundo bom precisa de conhecimento, bondade e coragem; não precisa de nostalgia do passado nem da censura da inteligência livre (…). Precisa de um olhar destemido e de uma inteligência livre. Precisa de esperança no futuro e não de olhar para um passado que está morto, que esperamos que seja em muito ultrapassado pelo futuro que a nossa inteligência é capaz de construir.»

Bertrand Russell, Por que não sou Cristão, Edições 70, Lisboa, 2020, pág. 35. 



domingo, 28 de julho de 2024

Animais que fazem surf: filósofos, golfinhos…

«Muitos dos meus melhores momentos no surf têm mais que ver com a experiência do esplendor e do poder das ondas do que com a minha aptidão para as surfar. De facto, aquando do meu momento mais mágico de surf, não estava sequer numa onda. Na baía de Byron, a ponta mais a leste da Austrália, estava a remar em direção às ondas. O Sol brilhava, o mar era azul e eu estava ciente dos milhares de milhas do oceano Pacífico, que se estende sem nenhuma interrupção até à costa do Chile.

Um impulso de energia gerado nessa vasta extensão de água aproximou-se de uma linha submersa de rochas e levantou-se à minha frente num paredão verde. Quando a onda começou a quebrar-se, um golfinho saltou à sua frente, saindo completamente da água.

Foi um momento sublime, mas não tão raro como isso. Como muitos dos meus colegas surfistas sabem, somos o único animal que joga ténis ou futebol, mas não o único que gosta de surfar.»

Peter Singer, Ética no Mundo Real, Edições 70, Lisboa, 2024, págs. 423-424.

 


Fotografia: Kalbarri, na Austrália, de Matt Hutton. 

quinta-feira, 11 de janeiro de 2024

A utilidade da filosofia para a ciência

«Concordo plenamente consigo quanto à importância e ao valor educativo da metodologia e bem assim da história e da filosofia da ciência. Hoje, muitas pessoas — e mesmo cientistas profissionais — parecem-me alguém que viu milhares de árvores mas nunca uma floresta. Um conhecimento das bases históricas e filosóficas fornece aquele tipo de independência dos preconceitos da sua geração que afectam muitos cientistas. Esta independência criada pelo conhecimento filosófico é — na minha opinião — a marca de distinção entre um mero artesão ou especialista e um verdadeiro pesquisador da verdade.»

Albert Einstein in “Albert Einstein como filósofo da ciência”, de Don A. Howard - https://criticanarede.com/cie_einstein.html

Essas palavras fazem parte da resposta de Albert Einstein a Robert A. Thornton - professor de Introdução à Física na Universidade de Porto Rico –, que queria introduzir alguma filosofia da ciência nas suas aulas e pediu ajuda a Einstein para convencer os seus relutantes colegas.  

 


Pintura: O Astrónomo, de Johannes Vermeer.