«Bertrand Russell teve uma vida longa [1872-1970], e dedicou-se a muitíssimo mais do que a lógica e a filosofia, sendo por duas vezes candidato ao parlamento (em apoio do sufrágio feminino) e tendo feito campanhas a favor da paz e do desarmamento, tanto na Primeira Guerra Mundial, como nas últimas duas décadas de vida. Escreveu livros técnicos, mas também “populares”, fundou e durante um tempo dirigiu uma escola, foi colunista de um jornal durante vários anos, e ganhou o prémio Nobel da Literatura. A sua vida foi surpreendentemente ativa e vigorosa, sempre em defesa de causas liberais progressistas, e também radiante, devido à perspicácia, clareza e acuidade do seu espírito.
Foi também, e por consequência, uma vida de controvérsia. O Trinity College de Cambridge tirou-lhe o emprego para o castigar devido à sua oposição à Primeira Guerra Mundial, e as suas atividades contra a guerra tiveram como resultado a prisão, tanto nessa altura como na última década de vida, neste caso devido à sua oposição às armas nucleares. Cedo na vida fez campanha a favor de perspetivas sensatas acerca do divórcio e da educação sexual; mais tarde, fez campanha contra a guerra do Vietname. Na verdade, quanto mais velho mais radical se tornava. Nos primeiros tempos de vida, era pedante (e dizia alegremente que o tinha sido), uma maneira de ser que herdara da avó austeramente moralista que o criou – a condessa Russell, viúva do antigo primeiro-ministro, conde Russell. A experiência libertou-lhe as atitudes. Casou várias vezes, e um dos seus livros mais controversos, Casamento e Moral, fez-lhe perder um emprego em Nova Iorque, em resultado de uma campanha de moralistas indignados – deixando-o quase indigente - , e quinze anos mais tarde valeu-lhe o prémio Nobel. Quando lhe foi atribuída a Ordem de Mérito, que é a distinção mais elevada possível no sistema britânico de honras, o rei Jorge VI disse-lhe, aquando da cerimónia: “Comportou-se de maneira que não seria de adotar em geral.” Ao que Russell respondeu que o que se faz depende do que se é: veja-se a diferença entre um carteiro e um rapaz traquina que toca a todas as campainhas da rua. O rei ficou sem resposta.»
A. C. Grayling, Uma História da Filosofia, Edições 70, Lisboa, 2020, pp. 399-400.
Fotografia de Wolfgang Suschitzky:
Bertrand Russell discursando em 1962 (Committee of 100, ban-the-bomb movement).
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