«Uma área de investigação [de acordo com Thomas Kuhn] torna-se uma ciência madura quando existe consenso entre os investigadores que nela trabalham relativamente aos problemas a investigar, as leis a aplicar, e os métodos e os instrumentos a usar nesse campo de investigação. Isto acontece quando há uma realização científica que uma comunidade científica particular reconhece como exemplar e fundando a sua investigação futura. Isto é, quando existe aquilo a que Kuhn chama paradigma, um conjunto de problemas, soluções — teorias e leis — práticas metodológicas e princípios metafísicos, que são aceites pela generalidade dos praticantes daquele campo. Uma ciência madura é dominada apenas por um paradigma, que estabelece o que é ou não legítimo investigar dentro de uma ciência e coordena e dirige a investigação nessa ciência. São exemplos de paradigmas a física de Aristóteles, a mecânica de Newton, o eletromagnetismo de Maxwell e a seleção natural de Darwin. Aquilo que, segundo Kuhn, distingue ciências de não-ciências não é, como pensam os indutivistas, o facto de as teorias científicas poderem ser verificadas, ou, como pensa Popper, o facto de poderem ser falsificadas, mas o de existir ou não num determinado campo de investigação um paradigma aceite pela generalidade dos seus praticantes. Diferentes áreas de investigação atingiram a maturidade, isto é, tornaram-se ciências, em diferentes ocasiões. A Matemática e a Astronomia na Antiguidade, a Óptica no século XVII, a Química no século XVIII e a Biologia no século XIX, por exemplo. Por outro lado, muitas das ciências humanas atuais, porque não têm um paradigma dominante, não constituem ciências.
Podemos, apesar disso, dizer que um paradigma é constituído por
- Um feito científico exemplar, que sirva como modelo para a investigação futura a realizar;
- Problemas, métodos, instrumentos e técnicas sugeridos por este feito científico;
- Crenças metafísicas acerca dos tipos de objetos e de fenómenos que constituem o mundo.
Por exemplo, o paradigma newtoniano inclui as leis do movimento de Newton, mas também métodos para aplicar estas leis ao movimento dos planetas, dos pêndulos, das bolas de bilhar, etc., assim como vários tipos de telescópios e de técnicas para o seu uso e para a correção dos dados obtidos por seu intermédio, em conjunto com pressupostos metafísicos, como o de que o mundo é um mecanismo em que várias forças operam de acordo com as leis do movimento de Newton.
Quando uma área de investigação adota um paradigma, ela entra num estádio a que Kuhn chama ciência normal e é nisto que consiste a maior parte da atividade científica.»
Álvaro Nunes, “Ciência e objetividade”, Crítica - https://criticanarede.com/anunescienciaeobjetividade.html
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