domingo, 18 de março de 2012

Sinto sempre que me falta fazer qualquer coisa

Vale a pena ler, no blogue Delito de Opinião, o testemunho da filha de uma professora sobre a sua mãe (ver aqui). Também publicado no blogue De Rerum Natura (ver aqui).

Impressiona pela autenticidade e infelizmente também porque faz um retrato real das condições de trabalho que são dadas, atualmente, aos aos professores nas escolas secundárias (e presumo que nas outras). Como comentava uma colega minha: "sinto sempre que me falta fazer qualquer coisa, mesmo que passe os fins de semana a trabalhar". O problema principal é que este qualquer coisa que falta, muitas vezes, não tem nada a ver com estudar ou preparar aulas, mas sim com tarefas burocráticas e informações legais sem fim de que é preciso ter conhecimento, relatórios que é preciso apresentar, atas que é preciso fazer, informações que é preciso dar, etc.

Os professores, para cumprir tudo o que lhes exigem diariamente (incluindo uma intensa participação em atividades que nada têm a ver com as aulas), tornaram-se escravos, sem direito a fins de semana (basta pensar se tiverem 4, 5 ou 6 turmas, por exemplo, na quantidade de testes que levam horas a elaborar e a corrigir), não é suposto terem vida pessoal, nem direito a usufruir daquilo que os poderia fazer dar melhores aulas: ler livros atualizados das disciplinas que lecionam, conhecer práticas pedagógicas novas (e ter tempo para as aplicar), ver filmes, ouvir música e por ai adiante.

Seria interessante o ministro Nuno Crato informar-se e informar-nos: Quantos professores colocaram baixas médicas? Quantos pediram reformas antecipadas? E quantos o fizeram por motivos relacionados com a sua saúde mental: por cansaço, por não conseguirem fazer face às exigências absurdas que lhes colocam, pelo desrespeito com que são tratados pelos alunos, pela desmotivação provocada pelo facto de sentirem que na sala de aula fazem tudo menos ensinar. Eu conheço vários.

Os dois governos de Sócrates fizeram um mal profundo à educação em Portugal e destruíram a vida de muitos professores, como a professora referida neste testemunho. Alguns deles tinham dedicado a sua vida a ensinar, eram competentes, experientes e foram tratados de um modo absurdo e desrespeitoso. E o que ganhou a qualidade da educação em Portugal com estas políticas implementadas pelos anteriores governos?

NADA. É preciso dizê-lo publicamente para que quem continua a afirmar  o contrário possa ter oportunidade de o demonstrar.

2 comentários:

José Batista disse...

Cara Colega Sara Raposo:

Assinaria por baixo este seu texto.
Obrigado.

Sara Raposo disse...

José,

Não tem de me agradecer. Assumir publicamente opiniões sobre este tipo de situações é algo que a maioria dos professores não faz, embora, ironicamente, em privado se queixe muito. É por isso que dificilmente algo pode mudar nas condições de trabalho que temos, pois aliada a esta passividade há o desprestígio social pela profissão. Por isso, mesmo que alguns façam bem o seu papel, em termos de opinião pública acabamos por ser todos metidos no mesmo saco. É triste, mas é assim.

Cumprimentos.