sexta-feira, 23 de março de 2012

O analfabeto político

Em Portugal, a indignação em nome dos grandes princípios morais e a ideia que os males de que padece o país (na educação, na economia, etc) se devem, sobretudo, aos políticos - que são todos corruptos e incompetentes - é frequente. A discussão pública das políticas concretas pelo comum dos cidadãos e o assumir de posições públicas, já não é muito frequente.

As generalizações falaciosas sobre a incompetência dos governantes são fáceis de fazer e permitem sacudir a água do capote do comum dos cidadãos. Há muitas pessoas que são capazes de desabafar o que lhes vai na alma com os seus "amigos" do Facebook, numa conversa em tom indignado e suficientemente vago, onde ninguém se compromete com críticas fundamentadas a aspectos concretos desta governação ou da anterior. Porém, quando se trata de assumir, no local de trabalho, nas instituições aquilo que pensam, vemos - por estranho que possa parecer - que a indignação expressa nas conversas privadas se esvanece e a passividade, o seguidismo tomam o seu lugar. Na ausência de uma entidade abstrata (o sistema, os políticos, o governo...) que possa ser alvo da indignação, para muitas pessoas parece deixar de existir alguém, em concreto, a quem possa pedir-se responsabilidades pelas  decisões e ações tomadas (seja por ministros, diretores, comissões, etc). Assim, aparentemente, não há ninguém a quem possa pedir-se contas. Eu penso que é com este tipo de impunidade que muitos políticos incompetentes contam. No fundo sabem que muitas pessoas em Portugal falam, falam, mas acabam por não incomodar nada, mesmo que tenham meios (legais e outros) ao seu dispor para criticar e reclamar não os utilizam. O conformismo costuma falar mais alto.

Falo, naturalmente, da realidade que conheço: a dos professores e das escolas. E estou a pensar na aplicação de medidas políticas recentes, como por exemplo, as respeitantes à avaliação dos professores e ao novo modelo de gestão das escola (os chamados agrupamentos). Creio, no entanto, que a atitude que aqui descrevo se aplica a outras profissões e em relação às políticas dos governos (deste e dos anteriores) em geral. Isto apesar de em todos os documentos orientadores do ministério da educação (desde aos mais gerais aos mais específicos) constar este nobre objetivo: a promoção da atitude crítica (dos alunos e dos professores).

É esta a democracia que temos. É preciso dizer que se lhe falta qualidade, isso não se deve apenas ao facto de Portugal ter políticos incompetentes (isso também acontece nos outros países), mas ao facto de muitos portugueses se demitirem de discutir política (com uma certa altivez e repulsa moral pela atividade dos políticos) e não criticarem, de forma fundamentada, aqueles que os governam.

2 comentários:

Manuel Galvão disse...

Aos condóminos descontentes com actuação da actual administração do condomínio eu costumo dizer-lhes: Quer fazer uma lista e concorrer comigo para administrador do condomínio?

A resposta é sempre: não tenho tempo livre, não tenho conhecimentos suficientes, etc...

Angelillo disse...

Ustedes han tenido huelga hace unos días, nosotros la tenemos el 29. ¿No será que estamos luchando no solo contra enemigos invisibles, sino también globales, y lo hacemos de forma particular? ¿A nadie se le ha ocurrido coincidir la huelga portuguesa con la española?

Saludos