sexta-feira, 23 de abril de 2010

Devemos acomodar-nos ou pensar por nós próprios?

 image Fotografia de Gérard Castello Lopes.

“(…) É tão cómodo ser menor. Se eu tiver um livro que tem entendimento por mim, um director espiritual que tem em minha vez consciência moral, um médico que por mim decide da dieta, etc., então não preciso de eu próprio me esforçar. Não me é forçoso pensar, quando posso simplesmente pagar; outros empreenderão por mim essa tarefa aborrecida.

Porque a imensa maioria dos homens (…) considera a passagem à maioridade difícil e também muito perigosa é que os tutores de boa vontade tomaram a seu cargo a superintência deles. Depois de, primeiro, terem embrutecido os seus animais domésticos e evitado cuidadosamente que estas criaturas pacíficas ousassem dar um passo fora da carroça em que as encerraram, mostram-lhes  em seguida o perigo que as ameaça, se tentarem andar sozinhas. Ora, este perigo não é assim tão grande, pois aprenderiam por fim muito bem a andar.”

Kant, “Resposta à pergunta: que é o Iluminismo?” em Paz perpétua e outros opúsculos, tradução de Artur Morão, Lisboa, 1992, Edições 70. pp 11-12.

4 comentários:

Anónimo disse...

Pois sim, mas e o lugarzinho de deputado, assessor de não sei quê ou administrador da empresasinha pública?

Fernanda Colaço

Anónimo disse...

Em Portugal o Sócrates que marcou o povo português não foi o filósofo grego mas sim o actual Primeiro-Ministro. Mesmo antes de Salazar a palavra de ordem na sociedade portuguesa era o conformismo e o comodismo - o "o respeitinho é muito bonito".

Sara Raposo disse...

Fernanda:
Em Portugal há, sem dúvida, uma relação entre a subserviência e a obtenção de lugares de nomeação política. Mas, esta interpretação provinciana não nos leva a lugar nenhum, como os factos podem comprovar no domínio da política e noutras áreas.

Melhorar o estado de coisas em que vivemos - seja na educação ou na política, por exemplo - implicaria alterar algumas das ideias feitas que vigoram: passar a valorizar a discussão e o confronto de ideias, reconhecer o mérito como critério para o desempenho dos cargos, distinguir os melhores, etc.

É verdade que passamos a vida a ouvir falar de crítica e reflexão, sobretudo nas escolas, mas poucas pessoas estão interessadas em praticar o que dizem ou aceitar que os outros o façam. Entendem a expressão de opiniões, muitas vezes como sinónimo de: criar mau ambiente, não ser simpático nem bom colega...
Cumprimentos.

Sara Raposo disse...

Caro anónimo:
O problema é que os políticos medíocres que temos saíram do meio deste povo e, de certo modo, os governantes vão ao encontro das expectativas desse mesmo povo. Portanto, não penso que os portugueses sejam apenas vítimas da sociedade, muitos podiam escolher ter uma atitude mais crítica e mais interventiva em termos políticos e não o fazem por comodismo, porque não pensarem no futuro do país mas apenas no imediato e no seu interesse próprio. Depois não se podem queixar do facto de alguns oportunistas tomarem conta do poder e dividirem os favores entre eles.
Cumprimentos.
Agradeço que na próxima vez se identifique.
Obrigada.