terça-feira, 30 de setembro de 2008

A condição humana

Ó rapaz, é Zeus tonitruante que detém o desfecho

de tudo quanto existe e tudo dispõe como quer.

Não há inteligência nos homens, mas vivemos

efémeros como gado, sem sabermos

como o deus terminará cada coisa.

Porém a esperança e a credulidade

alimentam-nos a vontade do impossível.

Uns esperam que venha o dia, outros as estações.

Não há ninguém que não julgue chegar ao ano

seguinte, amigo da riqueza e da prosperidade.

Mas a velhice, nada invejável, apanha um homem

antes de chegar à sua meta; a outros mortais

destroem as doenças miseráveis; e Hades envia

outros para debaixo da negra terra, mortos por Ares.

Outros agitados na tempestade marítima

e nas ondas numerosas do mar purpúreo

morrem, quando não conseguem sustento em terra.

Outros ainda atam uma corda ao pescoço em desgraçado

destino e deixam por sua vontade a luz do sol.

Assim, nada existe sem misérias, mas incontáveis

desgraças e sofrimentos inesperados existem

para os mortais. Mas se eu tivesse o poder de persuadir,

não estaríamos apaixonados pelas desgraças,

nem daríamos cabo do coração com dores amargas.

Semónides

(Poema retirado de: “Poesia Grega - de Álcman a Teócrito”, organização, tradução e notas de Frederico Lourenço, Edição Livros Cotovia, Lisboa 2006, pág. 26).


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