No próximo letivo terei cinco turmas: uma turma de Filosofia do 10º ano, duas turmas de Filosofia do 11º ano, uma turma de Sociologia do 12º ano e uma turma de Área de Integração de um Curso Profissional. Terei portanto quatro níveis, quatro coisas diferentes para ensinar ao mesmo tempo. O meu horário semanal totalizará 1100 minutos, uma vez que não tenho nenhuma redução apesar de ter vinte anos de serviço.
Os meus colegas de grupo (ou melhor, de subdepartamento) terão situações semelhantes. A Sara, por exemplo, terá cinco turmas, uma direção de turma e quatro níveis. Mesmo os colegas que já têm redução da componente letiva (menos 100 ou 200 minutos semanais) precisam de três ou quatro níveis para completar os seus horários.
Como explicarei noutro post, a principal causa dessa situação é a reestruturação curricular recentemente implementada.
Ter quatro níveis significa preparar simultaneamente aulas sobre assuntos muito diferentes, ainda para mais quando são também disciplinas diferentes. No meu caso, Filosofia, Área de Integração e Sociologia; mas tenho colegas que, além de Filosofia, lecionarão disciplinas como Ciência Política, Psicologia ou História da Cultura e das Artes. O facto de algumas dessas disciplinas pertencerem a Cursos Científico-Humanísticos e outras a Cursos Profissionais agrava essa dispersão, pois trata-se de cursos com lógicas de funcionamento bastante diferenciadas. Ter quatro níveis significará, portanto, uma enorme diminuição das condições de trabalho e prejudicará inevitavelmente a saúde e a vida familiar e pessoal dos professores. E mesmo que estes se disponham a sofrer esses prejuízos e se empenhem até ao limite das suas forças prejudicará também a qualidade do seu ensino.
É preciso não esquecer que a qualidade do ensino no próximo ano letivo será também prejudicada pelo aumento dos alunos por turma e pelos problemas daí decorrentes, nomeadamente de caráter disciplinar.
Enquanto isso, milhares de professores irão para o desemprego e muitos outros – que pertencem ao quadro e não podem ser mandados embora - andarão de escola em escola a tapar buracos (substituindo temporariamente colegas doentes, alguns devido precisamente a esta falta de condições de trabalho) e a realizar atividades que pouco mais são do que remendos e paliativos (apoios, coadjuvâncias, etc.)
Terá isto alguma lógica? Não seria melhor, em termos pedagógicos, dividir os alunos e as disciplinas por mais professores? (Não digo todos, pois sei que o Estado não pode garantir emprego a todas as pessoas que querem ser professores.) A resposta é evidente, mas não seria também melhor em termos económicos? O dinheiro que se poupará ao não pagar o ordenado a alguns milhares de professores compensará o custo económico do insucesso escolar provocado pelas más condições de trabalho dos professores? Duvido. Obrigar os professores a trabalhar demais dificilmente pode ser um bom negócio.