sexta-feira, 30 de julho de 2010

Cinema em tempo de lazer (1)

É verdade que alguns filmes franceses têm pretensões “intelectuais” ridículas e, tal como os textos de muitos filósofos franceses, nem sempre primam pela clareza das ideias que pretendem transmitir ao espectador.

O excelente filme “O SEGREDO DE UM CUSCUZ“, do realizador   ABDELLATIF KECHICHE,  permite contrariar este preconceito. Se quiserem perceber melhor o sentido das minhas palavras, vejam o filme. Vale mesmo a pena!

Para mais informações sobre o filme, ver aqui.

Já agora: as etiquetas que coloquei neste post referem-se a alguns dos problemas abordados no filme.

quinta-feira, 29 de julho de 2010

A verdade não vem sempre ao de cima

“O ditado de que a verdade triunfa sempre sobre a perseguição é uma daquelas falsidades agradáveis que as pessoas repetem entre si até chegarem ao estatuto de lugares-comuns, mas que toda a experiência refuta. A história está repleta de exemplos de verdades esmagadas pela perseguição. Mesmo que não sejam suprimidas para sempre, poderão ser relegadas para o esquecimento durante séculos. (…) A perseguição foi sempre bem sucedida, excepto quando os heréticos constituíam uma facção demasiado forte para ser eficazmente perseguida. (…) É apenas vã sentimentalidade pensar que a verdade, enquanto verdade, tem um poder inerente – que o erro não tem – de prevalecer contra a masmorra e a fogueira. As pessoas não se dedicam mais à verdade que – como frequentemente acontece – ao erro, e uma aplicação suficiente de punições legais e até sociais geralmente conseguirá travar a propagação tanto de uma como de outro. A verdadeira vantagem da verdade é a seguinte: quando uma opinião é verdadeira, pode ser extinta uma, duas ou até mais vezes, mas no decorrer do tempo haverá geralmente pessoas que a redescubram, até algum dos seus ressurgimentos calhar numa altura em que, devido a circunstâncias favoráveis, escape à perseguição até ter adquirido ímpeto suficiente para aguentar todas as tentativas subsequentes de a suprimir.”

John Stuart Mill, Sobre a Liberdade, Edições 70, 2006, Lisboa, pp. 67-68.

sexta-feira, 23 de julho de 2010

O valor da liberdade

“Partisan” designa aqueles que durante a Segunda Guerra Mundial (1939-1945) combateram contra a ocupação levada a cabo pela Alemanha nazi. Estes movimentos de resistência existiram em vários países ocupados pelos alemães, nomeadamente na Itália e na França.

Duas das canções mais conhecidas, que celebram os actos heróicos destes resistentes e o valor da liberdade contra a tirania, são “Bella Ciao” e “Partisan”. A primeira delas é uma canção popular italiana, interpretada aqui por Gómez Naharro. A segunda foi escrita e é cantada pelo cantor canadiano Leonard Cohen.

Quando nas aulas de Filosofia referimos os valores (como, por exemplo, a liberdade e a justiça) e o facto de estes orientarem as acções humanas, ao contrário do que possa parecer, não estamos a falar de algo vago sem qualquer relação com a realidade. Por exemplo, alguns destes homens e mulheres, durante a Segunda Guerra Mundial, morreram pela liberdade. Um ideal mais valioso para eles que outros - de certo mais fáceis de alcançar - como o poder.

Num regime democrático, como aquele em que vivemos, o respeito do Estado pelo valor da liberdade é um princípio fundamental. Vivemos, sem dúvida, num contexto histórico e num país em que a liberdade é bem mais fácil de alcançar do que o foi na época dos “Partisan”. Contudo, isso não faz com que seja um dado adquirido. Nem isenta os cidadãos de reflectirem sobre o seu significado e escrutinarem permanentemente as decisões dos políticos para garantir que esta é preservada.

A liberdade não deve ser apenas um valor abstracto referido nos manuais de Filosofia ou nos discursos políticos. Numa democracia, é para ser exercida na vida pública através da análise e da crítica.

Infelizmente isso nem sempre sucede em Portugal: muitas pessoas pensam duas vezes antes de criticarem alguém poderoso, receosas das consequências (nomeadamente profissionais), e muitos políticos quando são criticados em vez de discutirem ideias e de argumentarem a favor das suas posições preferem atacar pessoalmente os adversários e acusá-los de falta de patriotismo ou de qualquer outro ismo grandiloquente.

(Canção popular italiana, o autor é desconhecido. Foi criada  na Segunda Guerra Mundial, durante a ocupação alemã. Pode encontrar a letra da canção e uma tradução portuguesa – não sei avaliar se é boa ou má – aqui.)

(Pode encontrar a letra desta canção, escrita e cantada por Leonard Cohen, no original e em português, aqui.)

 

quinta-feira, 22 de julho de 2010

Novas Oportunidades: existo, logo mereço um diploma

 

Qualquer semelhança com a realidade talvez não seja mera coincidência… E é provavelmente por ser demasiado realista que só provoca sorrisos amarelos e tristes.

terça-feira, 20 de julho de 2010

Inteligência, a palavra proibida

Há uma palavra proibida quando se fala de educação: inteligência. Os professores nunca recorrem, pelo menos em voz alta, a explicações deste género: “O aluno X teve notas muito baixas porque é pouco inteligente”. Os especialistas em educação e os políticos que nela mandam, ao explicar o sucesso e o insucesso escolares referem as causas mais díspares (as estratégias utilizadas pelos professores, a gestão das escolas, o tamanho das escolas e das turmas, o ambiente familiar, etc.), mas nunca a inteligência dos alunos. E muito menos a falta dela!

É estranho que assim seja, pois a existência e a influência da inteligência no comportamento e na aprendizagem parecem indesmentíveis. Tal como o facto de esta ser uma questão de grau e de haver pessoas mais inteligentes que outras.

Se bem me lembro de algumas leituras de Psicologia, os psicólogos não descobriram que a inteligência não existe, mas sim que é difícil de medir com rigor e que não é provavelmente uma capacidade única, sendo composta por várias aptidões diferentes (podendo uma pessoa inteligente na matemática, por exemplo, não o ser noutras áreas). Essas descobertas deviam, quanto muito, levar-nos a não confundir o célebre QI (os resultados obtidos nos testes) com a inteligência efectiva da pessoa e, talvez, a falar de ‘inteligências’, no plural, mas não a banir a palavra e o conceito.

Sendo assim, porque é que a palavra ‘inteligência’ nunca aparece nos discursos sobre a educação?

sábado, 17 de julho de 2010

terça-feira, 13 de julho de 2010

Fazer mal em nome do bem

Num episódio de uma série policial que passava há anos na TV portuguesa, e cujo nome não recordo, o protagonista foi prender um colega polícia. Tinha-se descoberto que este liderava um “esquadrão da morte”, um grupo clandestino de polícias justiceiros que, fartos da burocracia jurídica e da lentidão do estado de direito, tinham decidido fazer justiça pelas próprias mãos e matavam criminosos que tinham conseguido escapar à justiça devido a formalismos legais ou corrompendo as autoridades. O líder desses justiceiros sabia que não tinha hipóteses de fuga e que a resistência era inútil e, por isso, aguardou a sua detenção serenamente, sentado na sala a ouvir música. Quando o colega que o vinha prender chegou, recordou-lhe os ideais que tinham em jovens, no início da carreira, quando acreditavam que iam conseguir erradicar o crime e tornar a sociedade mais justa e segura. Não me lembro com exactidão da resposta do outro, mas envolvia as ideias de que os fins não justificam os meios e de que é contraditório e imoral combater o crime através de actos criminosos. O polícia justiceiro não contra-argumentou. Em vez disso, comentou a beleza da música e disse que quase todas as obras do seu autor, Mozart, eram a imagem viva da perfeição - a perfeição que todos deveríamos tentar alcançar na nossa vida individual e na sociedade. Tinha sido, portanto, em nome da perfeição que matara alegados criminosos cuja culpa os tribunais não tinham conseguido provar.

Tal como é ilustrado por essa história, por vezes sucede que as causas de certas acções erradas não são motivos manifestamente errados (como o egoísmo, a ganância, a crueldade, etc.) mas sim motivos geralmente considerados bons (como o amor, a amizade, a lealdade, etc.). Na vida quotidiana é fácil encontrar exemplos do género: a pessoa X maltrata e magoa a pessoa Y porque está convencida que isso lhe é exigido pela afeição que tem à pessoa Z.

A História também regista muitos crimes perpetrados em nome de valores muito estimáveis. Dois exemplos entre muitos outros. Em nome do amor de Cristo, os cristãos perseguiram, torturam e mataram milhões de pessoas. Em nome da liberdade, da justiça social e do fim da exploração do homem pelo homem, os comunistas perseguiram, torturam e mataram milhões de pessoas.

Audição: Quarteto de Mozart para Oboé, Violino, Viola e Violoncelo em Fá Maior, K. 370.

segunda-feira, 12 de julho de 2010

Da ociosidade

O que é que acontece quando um indivíduo desfruta uma vida de ócio, sem quaisquer constrangimentos exteriores e pode concentrar-se, exclusivamente, em si ?
Nos Ensaios, Montaigne, conclui o seguinte:

Quando, recentemente, me retirei para minha casa, decidido a, tanto quanto possível, não me ocupar de outra coisa senão de passar em sossego e repouso o pouco tempo que me resta de vida, parecia-me não poder fazer melhor a favor do meu espírito que o de o deixar, em plena ociosidade, conversar comigo próprio, atentar em si mesmo e aí assentar, o que eu esperava que ele pudesse, a partir de então, fazer mais facilmente, uma vez que com o tempo se tornara mais grave e maduro. Mas descubro que - "os ócios dão sempre instabilidade à mente" ( Lucano, Pharsalia).

Vamos admitir que Montaigne tem razão. Se assim for, mesmo em férias se torna necessário alimentar a mente, para evitar o desregramento da imaginação e uma excessiva e improdutiva concentração no Ego. Por isso, aqui fica a sugestão de uma obra literária, onde também se abordam algumas questões filosóficas (a que voltarei noutros posts).



quinta-feira, 8 de julho de 2010

Exame de Filosofia: uma história mal contada

Foram hoje conhecidos os resultados dos exames nacionais. Segundo o jornal Público “foram avaliadas 24 disciplinas”. Mais uma vez, a Filosofia não fez parte do lote. (Nem a Filosofia nem nenhuma das outras disciplinas que os professores de Filosofia muitas vezes leccionam: Sociologia e Psicologia.) Tal facto não aflige a maior parte dos professores de Filosofia que conheço, mas a mim aflige.

Não vislumbro qual possa ser a justificação para essa discriminação. Nunca consegui compreender porque é que o governo anterior acabou com o exame nacional de Filosofia. Inicialmente estava previsto que os alunos no final do 11º, à semelhança do que sucede em disciplinas como Física e Química A e Geografia A, fariam obrigatoriamente um exame de Filosofia, sem o qual a disciplina não ficaria concluída. Depois, o governo decidiu acabar com a obrigatoriedade do exame e mantê-lo como prova específica de acesso à Universidade. O exame foi realizado apenas durante dois anos nessa modalidade, pois o governo decidiu acabar com ele de todo.

Actualmente, um aluno que queira estudar Filosofia na universidade tem de realizar provas específicas de História ou Português. Durante muitos anos, os alunos que pretendiam ingressar nas faculdades de Direito estudavam Filosofia no 12º ano e depois efectuavam o respectivo exame nacional, que entretanto também acabou. Actualmente, os futuros advogados em vez de um exame de Filosofia podem fazer provas de Português ou mesmo Inglês. Não será isso absurdo?

Nunca foi bem explicado porque é que o exame de Filosofia acabou. Trata-se de uma história muito mal contada. Infelizmente, em Portugal as histórias mal contadas acabam por nunca ser bem contadas - nem mesmo pela História.

terça-feira, 6 de julho de 2010

O livro da ex-ministra da Educação

Ao ouvir a ex-ministra da Educação, Maria Lurdes Rodrigues, a falar do seu novo livro lembrei-me do seguinte poema:

CÁ FORA

Abre a porta e caminha
Cá fora
Na nitidez salina do real

Sophia de Mello Breyner Andresen, Musa, 3ª edição, Editorial Caminho, Lisboa, 1994, pág. 39.

Que dizer quando a alienação em relação àquilo de que se fala é total?

segunda-feira, 5 de julho de 2010

Apoiar a revista Crítica

A revista Crítica é, há vários anos, uma ajuda inestimável para professores e alunos de Filosofia, tendo também motivos de interesse para pessoas de outras áreas.

Uma ajuda gratuita, desde Março de 2009. Porém, como se costuma dizer, não há almoços grátis e mesmo uma revista online não se faz sem dinheiro (por exemplo para pagar as traduções). Por isso, a direcção da Crítica aceita donativos e subscrições. Para assegurar a existência e a qualidade da revista.

Clique aqui, se quiser ajudar. 

sábado, 3 de julho de 2010

A importância de corrigir os erros

“Por que será que há, de um modo geral, uma predominância entre a humanidade de opiniões e condutas racionais? (…) [Tal] fica a dever-se a uma característica da mente humana, a fonte de tudo o que é respeitável no ser humano, quer como ser intelectual, quer moral – o facto de que os seus erros são corrigíveis. Ele é capaz de rectificar os seus erros através da discussão e da experiência. Não simplesmente pela experiência; tem de haver discussão, que mostre como há-de a experiência ser interpretada.”

John Stuart Mill, Sobre a Liberdade, Edições 70, 2006, Lisboa, pp. 55-56.

quinta-feira, 1 de julho de 2010

“Dúvida Metódica” no Tic Algarve’ 10

Tic Algarve’ 10

Este post destina-se a fazer uma apresentação, para professores, do blogue “Dúvida Metódica”, no dia 2 Julho (no campus da Penha da Universidade do Algarve) no âmbito do seminário Tic Algarve’ 10.

Pretende-se mostrar, de forma breve e com alguns exemplos, as diferentes utilizações que este blogue pode ter nas aulas de Filosofia e fora delas.

1. Recursos disponibilizados para o ensino e aprendizagem da Filosofia

A. Textos, imagens, cartoons, bandas desenhadas acerca de variados filósofos, conceitos e problemas filosóficos. Por exemplo: Amor; Atitude crítica; Democracia; Desobediência civil; Dilemas morais; Hobbes, Estado natureza e Sofista. Para aceder à lista integral consultar as etiquetas do blogue.

B. Links, por exemplo, para estes sítios: Dicionário de Filosofia - DEF; Blog de Filosofia e site do manual de Filosofia adoptado na escola. E ainda muitos outros, ver na barra lateral do blogue.

C. Materiais didácticos disponibilizados

1. Fichas de Trabalho, por exemplo aqui e aqui.

2. Matrizes dos testes de avaliação, por exemplo aqui.

3. Indicações para a realização de trabalhos e critérios de avaliação aqui.

4. Cartoons sobre problemas abordados nas aulas de Filosofia do 10º e 11º ano: aqui.

5. Filmes: Fichas e guiões de análise.

6. Vídeos, por exemplo este.

7. Notícias de jornal: por exemplo esta.

8. Informações sobre visitas de estudo.

D. Trabalhos dos alunos sobre os seguintes problemas filosóficos:

- A eutanásia.

- A liberdade de expressão: aqui e aqui.

- As falácias na publicidade e na política: aqui e aqui.

- O aborto.

- A diversidade e o relativismo cultural: aqui e aqui.

- O racismo.

2. Posts e outros recursos sem carácter filosófico

A. Opiniões sobre temas relacionados com a educação, por exemplo: a avaliação dos professores, os exames e a Internet e as novas tecnologias.

B. Posts sobre poemas, livros, literatura e música, por exemplo. Estes visam promover a aquisição de hábitos culturais.