terça-feira, 29 de dezembro de 2009

Razões para não ler

Férias e livros

Sugeri aos alunos das minhas turmas algumas leituras para férias. Neste contexto, a maior parte deles assumiu que:

1. Não gostava de ler.

2. Não gastava nem tempo nem dinheiro em livros, uma coisa pouco útil (ainda se fosse um telemóvel …).

Faço notar que estas opiniões foram emitidas por alunos dos cursos científico-humanísticos do 10º e 11º anos, na sua maioria com um aproveitamento razoável ou bom, que pretendem prosseguir os estudos e ir para a universidade.

Esta perspectiva em relação à leitura expressa, provavelmente, a opinião da maior parte dos alunos do secundário. O que não me surpreende.

Como professora, tenho constatado uma alteração curiosa: há uns tempos atrás os alunos que não liam ou não gostavam de ler, quando questionados sobre o assunto, ficavam calados (talvez por perceberem que não tinham motivos para se orgulhar), mas nos últimos anos assumem publicamente este facto como se fosse natural e acham estranho o contrário acontecer. Verifico também que alguns dos que têm hábitos de leitura têm, por vezes, vergonha de o assumir na aula perante os colegas.

Pelo que posso observar existe apenas uma minoria de alunos que têm um genuíno interesse por aprender e, por isso, procuram informação para além das matérias dadas nas aulas. Os outros, fora das tarefas impostas pelos professores (testes, fichas, trabalhos…) das várias disciplinas, não manifestam qualquer curiosidade por assuntos de natureza filosófica, científica ou literária.

Esta atitude explica-se, na minha opinião, entre outros factores, pelo seguinte: para eles a motivação para o estudo depende exclusivamente da capacidade dos professores os interessarem, não se vêem a si próprios como intervenientes activos e responsáveis pela sua aprendizagem. Quando não conseguem o aproveitamento desejado o problema não é deles, mas sim do professor actual, dos professores do passado, do sistema de ensino, etc.

Acontece que as aulas de Filosofia, de Matemática ou Português até podem ser intelectualmente interessantes e, mesmo assim, muitos alunos estarem-se nas tintas para aprender ou não terem condições cognitivas efectivas para o fazer. Há factores que não dependem do professor da disciplina, mas condicionam de forma decisiva a aprendizagem porque são pré-requisitos desta. No caso da Filosofia, por exemplo: o fraco domínio da língua portuguesa e do raciocínio abstracto (resultante, por exemplo, da falta de exigência do actual sistema de ensino até ao 9º ano). Mas podem-se acrescentar outros, como a falta de hábitos de trabalho; a ausência de controlo - por parte dos pais - das horas que os alunos passam a jogar computador; um ambiente social que, em geral, valoriza o prazer imediato e não o esforço intelectual, etc.

Portanto, ao contrário do que os discursos simplistas apregoam, nem tudo se resolve no ensino (da Filosofia ou de outra disciplina do secundário) com a competência científica e pedagógica manifestada pelos professores nas aulas. Os professores até podem ensinar bem, e ainda assim alguns alunos não estarem interessados em aprender ou não terem condições (cognitivas) para o fazer.

Como já disse, muitos dos alunos com bom aproveitamento não têm também hábitos de leitura. Para muitos deles o conhecimento adquirido nas aulas é algo completamente exterior e instrumental: precisam da média para entrar na universidade. E até a podem ter, contudo tal não significa que percebam o valor intrínseco de aprender. Esses alunos não fazem leituras fora daquilo que lhes é exigido nas aulas porque não têm um verdadeiro interesse pelo saber. Apenas lhes interessam as classificações e as médias.

São estas, do meu ponto de vista, algumas das razões explicativas das respostas dadas pelos meus alunos às minhas sugestões de leitura (alguns dos livros da colecção Filosofia Aberta da editora Gradiva e de literatura. Algumas dessas sugestões podem encontrar-se aqui).

terça-feira, 22 de dezembro de 2009

Na pausa das actividades lectivas, duas sugestões não filosóficas

Para saber mais sobre o filme ver aqui.

Gente Dublin

 

 

 

 

 

 

Para saber mais sobre os livros de James Joyce traduzidos em português ver aqui.

Cartoons sem espírito natalício

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Cartoons retirados deste sítio (vale a pena visitar!).

Tradução da citação do segundo cartoon:

“Olhando atentamente na sombra, vi-me como uma criatura guiada e escarnecida pela vaidade. Os meus olhos ardiam de angústia e de desespero.”

James Joyce, Gente de Dublin, tradutor B. Carvalho, Edições Vega (1985), pág. 72.

sábado, 19 de dezembro de 2009

Sugestão para as férias: uma visita ao Museu Nacional Soares dos Reis

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No Museu Soares dos Reis poderá visitar a EXPOSIÇÃO (de 17 de Dezembro até Março):
EXUBERÂNCIAS DA CAIXA PRETA a propósito d’ A Expressão das Emoções no Homem e nos Animais de Charles Darwin”.

«No ano das comemorações de Darwin o IBMC/INEB com o apoio da Ciência Viva e a colaboração da ESAD e deste Museu, avançaram com um projecto de exposição a propósito da obra de Darwin “A Expressão das Emoções no Homem e nos Animais”.

Com a obra de Darwin como fio condutor, são apresentados em cinco núcleos objectos que suportam e ilustram o discurso alusivo aos momentos de observação de pessoas e animais. Animais do Museu de História Natural da UP, Fotografias do CPF ou desenhos e esculturas do MNSR e da FBAUP, são confrontados com os textos de Darwin.

Num núcleo central é abordado o comando das emoções.

O início e fim da exposição são marcados por retratos emblemáticos da colecção do MNSR.»

Esta informação foi enviada pelo Museu Nacional Soares dos Reis (para saber mais sobre o Museu  ver aqui).

sexta-feira, 11 de dezembro de 2009

Pesadelo no Centro Comercial, quero dizer, pesadelo antes do Natal

Aproximam-se as férias do Natal. Para que o tempo de lazer não seja desprovido de estímulos intelectuais, ficam duas sugestões alusivas à época natalícia:

O filme de Tim Burton “The nightmare before Christmas”.

Uma animação com o poema original de Tim Burton e as ideias que deram origem ao filme “The nightmare before Christmas”.

quinta-feira, 10 de dezembro de 2009

Finalmente, o meu comentário aos comentários

Quero agradecer aos alunos do 10ºC que ousaram fazer um comentário ao cartoon.

Agradeço igualmente aos alunos do 11ºC (Joana e Hugo) e aos alunos do 11ºB (Sara, André e Cristina) que aceitaram o desafio proposto.

Peço desculpa pela minha resposta tardia. Esta deveu-se, sobretudo, à correcção das fichas e testes das minhas cinco turmas. Quando alguém vós disser “os professores não trabalham”, apresentem contra-exemplos!

Os meus comentários podem ser lidos aqui e aqui.

terça-feira, 8 de dezembro de 2009

Cinema Paraíso: a vida não é como nos filmes

O filme de Guiseppe Tornatore, “Cinema Paraíso”, vai passar hoje (feriado) às 14.00 na RTP2. Sugiro o seu visionamento por razões cinéfilas, mas também filosóficas. A propósito deste filme podemos reflectir acerca de diversas questões. Por exemplo:

Até que ponto as acções individuais são condicionadas por factores de natureza histórica, cultural e psicológica? Haverá alguma margem de escolha, ou seja, teremos livre-arbítrio?

O que é que dá, verdadeiramente, sentido à vida?

Para perceberem que vale mesmo a pena ver (ou rever) este filme, espreitem o trailer.